Os políticos ainda buscam um nome capaz de conduzir o País até 2018. Com Temer ou sem, as reformas não podem parar. Sem elas, chegaremos ao próximo ano sem o direito de ter esperança
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SOBREVIDA? O presidente Temer reúne ministros e a base aliada no Palácio da Alvorada no domingo 21. O governo ainda respira (Crédito: Marcos Corrêa/PR) |
Débora Bergamasco, Eduardo Militão e Ary Filgueira / Isto É
Até a quarta-feira 17, o Brasil ensaiava seus primeiros passos rumo à
saída do atoleiro. A inflação estava controlada, a economia recuperava o fôlego
e os índices de desemprego pareciam desidratar. Ao menos do ponto de vista
administrativo, o presidente da República, Michel Temer, conduzia o País, até
então à deriva, sem maiores sobressaltos.
Os fiadores de seu mandato, nas esferas política e econômica, exalavam
confiança, sobretudo porque as reformas previdenciária e trabalhista estavam em
marcha e perto de serem apreciadas pelo Congresso Nacional – mesmo que com
alguns remendos.
A divulgação de trechos da delação dos donos da JBS empurrou não apenas
o presidente da República, Michel Temer, como o País para o epicentro de uma
nova crise. Desta vez, mais grave que aquela experimentada pelo Brasil em 2016,
quando Dilma Rousseff se inviabilizou política e administrativamente. Agora,
embora a situação do presidente da República se deteriore a cada átimo de
tempo, ainda não há uma convergência sobre quem irá comandar o Brasil até as
eleições de 2018.
Investigado no STF por corrupção, organização criminosa e obstrução de
Justiça, Temer pode até não ter mais condições políticas de permanecer na
cadeira de presidente, e é provável que não as tenha, mas é certo que todos os
caminhos que apontam para o desenlace da crise atual ainda passam por ele.
E dele dependem diretamente. Os atores políticos têm ciência disso.
Hoje, não há acordo possível sem a anuência do presidente da República. Afinal,
mesmo que amargue uma derrota no plenário do TSE, no próximo dia 6, – hoje a
saída considerada mais rápida e indolor, – uma infindável possibilidade de
recursos arrastaria o País para um buraco sem fundo. E isso ninguém quer. Por
isso, Temer não pode ser descartado do tabuleiro do xadrez político, mesmo que
apenas como articulador da própria sucessão.
Segundo apurou ISTOÉ, no PSDB é ponto pacífico que Temer perdeu a governabilidade,
não conseguirá mais fazer as reformas necessárias, não é mais útil ao
empresariado e que sua permanência só vai gerar instabilidade política e
econômica.
Porém, a postura tucana de se manter em cima do muro neste momento –
tratada em longa reunião da bancada parlamentar na tarde de quarta-feira 24 a
portas fechadas, no Congresso Nacional – guarda relação com a falta de um
acordo sobre quem irá substituir o peemedebista.
Os chamados “cabeças brancas” do PSDB, a ala mais antiga e de maior
ascendência sobre o partido, não aceitam a hipótese de o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ser o sucessor de Temer. Acham-no um desastre para o
País.
Na avaliação dos tucanos, um eventual triunfo de Maia teria potencial
para incendiar as ruas e desgastar o partido perante a opinião pública. Para
eles, poderia ser mortal à legenda bancar a eleição de mais um candidato
controverso, com implicações na Lava Jato.
Eles contabilizam que, hoje, Maia teria votos suficientes na Câmara para
ser eleito indiretamente. Por isso, tentam ganhar tempo para articular outro
nome. Mas nem no tucanato a fumaça branca do consenso é possível ser emitida.
Enquanto a velha guarda não quer nem ouvir o nome de Maia, os deputados da
legenda já topam uma articulação que envolva a ascensão de Rodrigo Maia ao
Planalto.
Outra ala trabalha diuturnamente para eleger o senador Tasso Jereissati
(CE) por votação indireta. O nome ganhou força nas últimas horas. Tasso se
credencia por cultivar o perfil de conciliador e transitar com desenvoltura
entre todas as agremiações. Ele, inclusive, toparia não concorrer a uma
reeleição, caso fosse alçado ao cargo por meio de um grande acordo nacional.
Pesa contra ele, no entanto, o fato de ser presidente nacional do PSDB, o que
poderia acirrar a divisão do País entre o “nós e eles”, promovida pelo PT.
Se as divergências ainda prevalecem, existe algo sobre o qual os tucanos
em peso concordam: a escolha do sucessor presidencial precisa ser referendada
pelo próprio presidente Michel Temer. Para convencê-lo a aceitar um “acordão”,
a proposta seria a seguinte: o PSDB se comprometeria a apoiar a saída mais
honrosa para a biografia do peemedebista, qual seja, a cassação pelo TSE. A
solução permitiria a Temer responsabilizar a antecessora pelas irregularidades
na arrecadação de fundos à campanha e o pouparia de partir para uma renúncia –
o que soaria como uma confissão de culpa.
Essa saída, no entanto, até semana passada, ainda esbarrava num
obstáculo que os tucanos ainda tentavam remover internamente: “Quem vai colocar
o guizo no pescoço do gato? Eu que não”, disse à ISTOÉ um tucano de alta
plumagem. Não havia quem ousasse propor a Temer essa solução.
Por isso, o discurso ao público, por ora, é o de só tomar uma decisão
definitiva depois do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior
Eleitoral. Reside aí outro entrave. No final da última semana, o presidente
mantinha a disposição de tentar postergar ao máximo o processo na corte
eleitoral.
O adiamento seria feito através de questões de ordem, pedidos de
discussões preliminares e recursos de advogados. O governo ainda se articula
para que algum ministro aliado peça vistas do processo, expediente que
permitiria que o julgamento fosse interrompido por prazo indefinido. Ou seja,
mesmo fragilizado, Temer ainda detém o controle sobre o leme que dá direção às
ações políticas. Resta saber se isso lhe garantirá sobrevida e por quanto
tempo.
Em meio às conversas de coxia nos últimos dias, o principal articulador
tucano ao lado de Tasso Jereissati, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
nutriu preocupação com o timing da crise. FHC teme que se o presidente ficar
“sangrando” na cadeira presidencial, a pressão por eleição direta possa
recrudescer.
Este caminho atende às conveniências do PT. “O País só deve dar um passo
pensando nos seguintes. Como preservar a Constituição, como tocar as reformas,
compondo também com interesses populares. Não basta dar rumo ao mercado, as
pessoas e o país contam. É preciso ter um discurso crível e insistir muito
nele”, afirmou o ex-presidente.
Somente uma jogada – inconcebível, por sinal – poderia fazer a cúpula do
PT desistir das Diretas: que uma concertação nacional garantisse que Lula não
fosse condenado pela Justiça em instâncias superiores, já que uma derrota na
primeira instância é considerada favas contadas até no seio do PT.
Por mais absurdo que possa parecer, já há costuras nesse sentido. Ao
menos um ministro do Supremo foi consultado para endossar um acordo que contemple
o indulto a Lula. Conforme apurou ISTOÉ, um dos emissários do acerto seria
Nelson Jobim, hoje considerado no meio político como um preposto do
ex-presidente, embora também cultive uma relação azeitada com o alto tucanato.
Na última semana, o ex-ministro de FHC, Lula e Dilma esteve cotado nas
bolsas de apostas para suceder Temer. O próprio, no entanto, negou o vôo solo
em jantar para cinqüenta integrantes do mercado financeiro, na quinta-feira 25.
“Não contem comigo”, asseverou. O BTG Pactual, banco do qual é sócio e onde
investiu grana pesada, é o maior impeditivo. Além de não rasgar dinheiro, Jobim
enfrenta resistências internas. Leia-se André Esteves, fundador e controlador
do banco.
Outro nome que surgiu nas rodas de conversa foi o do ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles. Embora seja bem visto pelo mercado financeiro e
empresários, por ter contribuído para interromper a recessão, reduzir a
inflação, a taxa de juros e os índices de desemprego, Meirelles tem contra ele
a ligação estreita com a JBS, protagonista da crise que fragilizou o atual
governo: o ex-ministro foi presidente do Conselho Consultivo da empresa de 2012
a 2016.
O que quase todos concordam em Brasília é que Meirelles deveria
permanecer na Fazenda. Se a articulação para guindar Tasso ao Planalto for bem
sucedida, a manutenção de Meirelles ganha força. Na última semana, chegou- se a
aventar a hipótese de alçar o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, ao
posto, mas a troca no comando da economia embute riscos e tudo o que o Brasil
não precisa neste momento são de solavancos desnecessários nessa área.
Até a sexta-feira 26, o PT ainda fazia de tudo para encaixar Nelson
Jobim no novo quebra-cabeças da Esplanada. No dia seguinte à negativa de Jobim,
quanto à possibilidade de assumir o País em eleição indireta, os petistas
fizeram circular a versão de que o homem do BTG poderia ser guindado à Justiça
num governo Tasso.
O recado estava dado: o PT até poderia digerir um tucano na Presidência
desde que conseguisse controlar a Justiça. Tudo muito bom, tudo muito bem,
desde que o motivo não fosse nada republicano. A trama é outra, mas a intenção
é a mesma – ou seja, bem rasteira: a de emplacar um aliado na Justiça para
salvar a pele de Lula.
Estabelecido o impasse, FHC poderia surgir com um tertius na disputa. O
próprio, no entanto, parece não exibir mais musculatura política para entrar
numa bola dividida. “Candidato, eu? Olha para a minha cara, minha idade”,
afirmou semana passada. A interlocutores, porém, FHC confidenciou que poderia
aceitar a missão, desde que houvesse um chamamento nacional permitindo que ele
fosse ungido ao cargo, sem restrições de quem quer que seja.
Nessa altura do campeonato, seria de fato o melhor dos mundos para o
País. Mas setores da esquerda ainda fazem reservas à solução FHC. “O
ex-presidente só pacificaria o País se fizesse muitas concessões a Lula, o que
a opinião pública não engoliria nesse momento”, disse um parlamentar bem
enfronhado entre alas importantes do Congresso Nacional.
“Continuamos
avançando e votando matérias importantes. Ainda há muito a fazer ” Michel Temer, presidente da República
Embora o cenário indicasse favas contadas no início da semana, é
indiscutível que nas últimas horas o Planalto ganhou um respiro. O principal
motivo não é outro senão a falta de consenso em torno dos nomes para suceder
Temer. Em seu terceiro pronunciamento público, desde a eclosão da crise, o
presidente se esmerou em demonstrar que, apesar das turbulências políticas, o
governo ainda mantém a ascendência sobre a pauta do Congresso.
“Continuamos avançando e votando matérias importantíssimas. Deputados e
senadores continuam a trabalhar em favor do Brasil e aprovaram número
expressivo de medidas provisórias. Sete em uma semana”, afirmou. Ao fim,
agradeceu a base aliada: “Ainda há muito o que fazer”, sapecou.
Segundo fontes do PMDB, os caciques, principalmente os da Câmara,
decidiram lutar até o fim. Desmoralizar Temer agora significaria promover um
corte na própria carne, entende a turma. De acordo com esse mesmo raciocínio,
num futuro governo, o partido responsável por pautar a agenda econômica liberal
perderia relevância. “Entregar Temer aos leões agora, para o PMDB, é partir
para um abraço de afogados no futuro”, disse um integrante da cúpula da
legenda.
O fato insofismável é que, com Temer fora ou não, haja convergência ou
não em torno do nome para sucedê-lo, é condição sine qua non para o Brasil
seguir no caminho das reformas. Como bem sublinhou a The Economist, na última
semana, “com Temer ou sem ele, a melhor esperança para o Brasil agora é ter no
Planalto um líder que consiga concluir o que o atual presidente começou. O
ocupante do Palácio do Planalto importa menos que a continuidade das reformas
econômicas”. Perfeito. Sem elas, todos chegaremos em 2018 sem o direito de
sonhar.
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